Sarmiento. Revista Galego-Portuguesa de Historia da Educación

 Para o presente número desde a revista Sarmiento consideramos que neste momento poderia ser apropriado pôr em valor a trajectória pessoal e profissional de algumas das pessoas —colegas e mentores— que protagonizaram em primeira pessoa uma nova andadura da História da Educação em Portugal e Espanha. Damos assim continuidade ao trabalho que Julia Varela publicou no anterior número de Sarmiento desde o âmbito da sociologia da educação.

Está-se na história não necessariamente como herói ou vítima, vencedor ou vencido, agente ou sujeito passivo-testemunha.
Dito de modo abreviado, fazemos parte da história como interdependentes e em interaccção, contribuindo
profissionalmente e realizando-nos como pessoas. Temporalidades, contextos, sociabilidades, biografias são dimensões
fundamentais das histórias de vida. Tendo iniciado a docência no quadro histórico-pedagógico que antecedeu a Revolução
Democrática iniciada em 25 de Abril de 1974, o breve apontamento de ego-história que aqui apresento cruza com as
vicissitudes e a evolução da Escola Democrática em Portugal.

Neste artigo faço um percurso pelo itinerario de formação, académico e pesquisador que tenho realizado ao longo de muitas décadas de minha vida, e do que ainda não tenho querido me separar e que tem estado centrado num âmbito de conhecimento específico: a educação das mulheres e sua história. Junto a outras professoras dedicadas a esta mesma temática, tem sido possível constatar o silêncio que sobre as mulheres se materializou na educação que experimentamos em nossa época de estudantes. Hoje, felizmente, as publicações são abundantes e os projectos de investigação habituais sobre maestras e universitárias, sobre escolas e colégios, sobre professoras, inspectoras, autoras, etc. E a docencia conta com resultados disponíveis para ser transmitidos nas disciplinas históricas. Não faltam docentes que assim o fazem, porque desejam contar uma história mais geral, não só masculina, e porque sabem que conhecer a passado ajuda a entender melhor o presente.  

Relato autobiográfico do autor que resume o processo de sua formação e as experiências vividas como historiador da educação, com alusões a aspectos concomitantes que afectam a seus desempenhos em vários âmbitos profissionais e em diversas instituições e territórios. Descrevem-se as etapas do seu itinerário em torno dos lugares em que tem exercido, os trabalhos académicos desenvolvidos desde sua tese doctoral, seus temas de estudo e algumas de suas publicações. O autor reflexiona também sobre o processo e as influências que têm determinado sua posição epistémica e metodológica em torno da disciplina, bem como o diálogo que tem mantido com as ciências humanas e sociais na construção da história que tem praticado.

Neste artigo o autor reconstrui sua trajectória académico-investigadora no campo da História da Educação desde os anos iniciais de formação e profissionalização desde as décadas dos sessenta e setenta do século passado até nossos dias. Primeiro, destacando o trânsito, em suas investigações iniciais, desde a sociologia e política da educação à história social da educação. Depois, sintetizando os principais rasgos —diversidade temática e paradigmática, condição fronteiriça, perspectivismo…— que caracterizam dita trajectória. Por último, expõe sua evolução desde a aposentação em 2013, bem como seu recente interesse, de novo, pelos enfoques e temas próprios da história social da educação.

O centro de inovação e integração psicopedagógica O Pelouro, situado em Caldelas de Tui – Pontevedra (Galícia), é uma instituição educativa com uma proposta educativa singular e inclusiva que durante mais de 40 anos obteve resultados significativos na formação dos seus estudantes, em estreita participação com a comunidade familiar. Esta escola é o objeto da presente contribuição, fazendo uma exposição e reflexão sobre a sua inovadora proposta educativa e os seus processos de aprendizagem diferenciada. O eixo principal da escola na sua proposta educativa é a infância e as suas necessidades afetivas, entendendo a cada aluno como um ser individual, um criador do seu processo de aprendizagem

Sebastián Pena López (1885-1971), natural de Tabeirós, (A Estrada), estabeleceu-se em Parada de Miñor (Nigrán).
Seminarista e emigrante em sua juventude; maestro tardio e apasionado; activista cultural e agrário; de profunda fé católica e compromisso republicano, foi castigado e zarandeado pelos insurgidos. Além de sofrer o triste silêncio do exílio interior foi vítima da mais traidora das memórias que seu nome fosse confundido com o de um terrível assassino.

A introdução do Ensino Técnico no panorama escolar de Viana do Castelo verificou-se em 1888. No ambiente socioprofissional e educativo desta pequena cidade capital distrital, surgiu, assim, uma alternativa ao ensino que, desde 1853, era ministrado no Liceu. A partir desta realidade, apresenta-se um estudo efetuado sobre a distribuição socioprofissional dos pais dos alunos das duas Escolas, a sua evolução estrutural ao longo de três Regimes políticos e nos três grandes tipos de cursos lecionados – Liceal, Industrial e Comercial. A partir desta base, procurou-se apurar que estratégias socioprofissionais e familiares, muito particularmente no respeitante aos pais que matricularam vários filhos nas duas Escolas, foram seguidas, sendo apresentados, no âmbito de uma análise mais fina, vários estudos de caso. Este trabalho estabeleceu as suas fundações em dois tipos de fontes praticamente inéditas e colocadas num diálogo profundamente revelador e problematizador, muito particularmente os livros de matrículas do Liceus e dos Cursos do Ensino Técnico e os Cadernos de Recenseamento Eleitoral.

Os profissionais da educação social estão a incorporar-se aos centros escolares espanhóis, mas em Alemanha estão presentes desde os anos sessenta do passado século. Estudar sua experiência é de grande utilidade para poder aprender tanto dos seus sucessos como de seus erros. Por médio de uma metodologia de estudo qualitativo, baseada na análise de conteúdo mediante a revisão de literatura especializada, pretendemos situar as coordenadas das metas históricas que conduziram a sua incorporação nas escolas, bem como os traços mas singulares que a caracterizam. Em primeiro lugar, apresentar-se-ão uns dados introductorios para compreender o contexto em que emerge, indicando as principais características do sistema educativo alemão e os traços gerais da profissão. Por último, afundaremos nos fundamentos epistemolóxicos da Schulsozialarbeit alemã desde seus inícios até a actualidade. Os resultados apontam que, não sem dificuldades, se está a assentar sua figura profissional nas escolas como resultado de seu bom trabalho.  

Neste artigo realiza-se uma exploração sobre a possibilidade de indagar na história de pequenas comunidades rurais desde a perspectiva da sua transformação pedagógica entre 1950 e o tempo presente. Faz-se referência a um primeiro estudo de um lugar concreto da periferia de Santiago de Compostela com o objectivo de gerar conhecimento sobre bens materiais e inmateriais de uma comunidade local, assim como dos fenômenos de despoboamento e neorruralismo.  O encontro de culturas diferentes, as transformações sucessivas que experimenta o lugar, o desafio de viver com as achegas dos novos habitantes e mesmo o regresso da mocidade com uma vinculação familiar, permite elaborar um estudo da pedagogia do lugar desde um marco histórico onde as pessoas aprendem e convivem numa paisagem que se transforma, modificando os modos de aprender e, ao mesmo tempo, preservando a memória local.  

Este trabalho teve como objetivo contribuir para a compreensão do discurso psicopedagógico sobre a criança em idade pré-escolar que circulou em Portugal, nos anos 40 e 50 do século XX, através da análise de discursos dirigidos às mães veiculados em duas revistas de educação familiar - Os Nossos Filhos e Saúde e Lar. Os nossos resultados evidenciam a existência de uma preocupação com a forma como as crianças eram educadas, assim como a crença de que a educação para a maternidade seria a solução para os problemas que as afetavam. Neste sentido, são difundidas informações sobre o desenvolvimento infantil e as mães são aconselhadas sobre as estratégias que poderiam utilizar para conhecer e educar os seus filhos, assentes no conhecimento científico sobre a criança e a sua educação, funcionando, as revistas, como um veículo de difusão do discurso psicopedagógico sobre a infância junto das mães portuguesas

Manuel Panero Martínez exerceu como inspector de ensino primário nas províncias de Zamora, Lugo, Corunha e Toledo. Os seus escritos constituem um valioso testemunho sobre a situação das escolas e dos mestres na Galiza de finais do século XIX. Reproduzimos uma memória sobre as visitas realizadas às escolas lucenses, o discurso que pronunciou no Congresso Pedagógico Regional celebrado em Pontevedra (1887) e um relatório emitido com motivo do expediente disciplinario instruído a um mestre corunhês.

Conformam este livro uma larga entrevista biográfica seguido de umas notas biográficas que o próprio Elias escreveu durante a sua vida. Esta obra, porém, vai bem mais além da formação e do exercício da profissão, vai mais alá do processo que lhe permitiu chegar a ser o grande sociólogo que foi. Nos dois capítulos enfróntanse estes e outros aspectos da obra de Elias, mas sobre todos estes textos permitem-nos conhecer novos aspectos da sociologia europeia do século XX(...). Estamos, portanto, diante de uma biografia que, tal e como a narra o próprio autor, resulta ser socioloxicamente modélica e vencellada estreitamente com uma parte importante da sua vida e com os dramáticos conflitos que se desenvolveram na Europa e no mundo durante a primeira metade do século XX.

O património histórico-educativo concentra actualmente tarefas de investigação com a preocupação por conhecer, entender e explicar o passado educativo e sua influência sobre o presente da educação. Centram-se os problemas a estudo na cultura empírica escolar: uma re-consideração de aspectos vinculados às perspectivas abertas pela História Social e a História Cultural da Educação, ao privilegiar a atenção etnográfica. Esta orientação investigadora desfruta de apoio de congressos e publicações e do suporte oferecido desde o museismo escolar e pedagógico.

O Livro-Catálogo da Exposição Educação, Género e Leitura, efectua um percurso que nutre e condensa a memória da visita à exposição temporária que foi acolhida desde o 26 de maio do 2023 no Museu Pedagógico da Galiza (MUPEGA), comisariada pela professora Rita Gradaílle Pernas e o professor Antón Costa Rico, ambos membros do Grupo de Investigação em Pedagogia Social e Educação Ambiental SEPA-interea da Universidade de Santiago de Compostela. Uma amostra que mostra realidades, imagens e representações que nos transferem desde meados do século XIX até a actualidade num palco de estereótipos e de discriminações, mas também de dinâmicas, de processos de luta e de conquistas transformadoras, que traçaram modos de ensinar e de aprender em chave de género, pondo énfase em particular no rol atribuído às mulheres.  

O princípio da meritocracia, presente nàs formulações de política educativa, tanto social-democratas como neoliberais, desfruta da lexitimación que lhe concedem os poderes económicos e políticos. Porém, desde uma mirada crítica sobre a realidade das classes sociais e sobre as desigualdades existentes é mester verificar a sua verdade, as suas limitações, ou quanto há de formulação ideológica. A sociologia histórica crítica e não funcionalista realizada nas passadas décadas dos anos sessenta a oitenta pôs de relevo a sua formulação ideológica. O professor Viñao Frago procede a reler estas páginas e a examinar o discurso da meritocracia aplicado às políticas educativas em Espanha, e desde a sua prática historiográfica examina a genealogia e a função social destas políticas, mostra os argumentos em debate e a resonancia ideológica deste princípio. Ao tempo, invita a realizar exames críticos dos processos histórico-educativos da mão das melhores orientações da história social.  

Obra semeada com muitos afetos que foram crescendo na convivência com o autor homenageado. Conjunto de textos de autores que se cruzaram com Justino Magalhães no percurso de vida académico, científico ou simplesmente amigos e familiares.

Colecção de artigos e depoimentos de colegas, familiares e antigos alunos do historiador educativo Justino Magalhães, destacando a importância das redes de investigação, o património intelectual e o legado individual na História da Educação. Este é o primeiro volume de uma nova colecção dedicada à história da educação em Portugal e Brasil.

  

 

A tradução à língua galega elaborada por parte de Antón Costa Rico desde o original italiano do texto As “escolas novas” e seus problemas -redigido por Ernesto Codignola em primeira edição de 1946, enriquecido em 1962 por parte do pedagogo Aldo Visalbergui e reeditado novamente no 1970- no marco da Colecção Biblioteca de Pedagogia de Kalandraka, traz à actualidade uma leitura que, além de configurar um fundamental recurso pedagógico de grande interesse para todas aquelas pessoas com inquietudes vinculadas com a renovação pedagógica, contribui a construir pontes entre o movimento das escolas novas de inícios do século XX e as preocupações mais recentes no âmbito do pensamento pedagógico.

Síntese em 4 volumes de cem anos da História da Educação em Portugal. Autores conceituados sintetizam o que de mais importante ocorreu nos diversos subsistemas de ensino, evidenciando a rutura que constituiu a revolução de abril de 1974 na forma de pensar e investir na educação.

Neste trabalho Nick Mead reflexiona sobre a forma como os docentes transladam os valores políticos, morais e pessoais aos alunos. Isto supõe aprofundar nas iniciativas pedagógicas internacionais compreendidas dentro do pensamento gramsciano, questionando o sentido da aplicação actual de uma educação centrada no rendimento e a sistematização de conteúdos previamente filtrados pelos poderes hegemónicos. Sua leitura provoca uma reflexão teórica para as práticas pedagógicas do século XXI, suscitando a preocupação sobre “velhos” problemas educativos internacionais, desprendidos em parte das novas exigências sociais, éticas e políticas que acompanharam à sociedade do consumo.

Doze vidas de mestres e professoras depuradas pelas autoridades fascistas, são os que se acolhem neste trabalho que encerra uma trilogia cujo fio condutor é a depuração do magistério espanhol que começa em 1936 com a sublevação militar anterior à guerra civil espanhola. O projeto, da mão do professor Narciso de Gabriel, foi crescendo nos últimos anos para colocar luz naquele processo de infausto lembrança.